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Crise ameaça fechar o Parque Nacional da Serra da Capivara

Até mesmo as guaritas de acesso ao parque, controladas totalmente por mulheres e que geram dezenas de empregos para população local, devem ser desativadas por falta de apoio.

O Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco e principal atrativo turístico do Piauí, pode ter seus serviços de visitação pública paralisados por falta de recursos. Até mesmo as guaritas de acesso ao parque, controladas totalmente por mulheres e que geram dezenas de empregos para população local, devem ser desativadas por falta de apoio.

A crise na reserva federal se repete ano após ano. Até agora a administração impecável dessa relíquia da natureza brasileira é resultado de uma cogestão entre a Fundação Museu do Homem Americano e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. No entanto, o local não dispõe das verbas necessárias para manter o padrão instalado no parque.

Em alguns circuitos turísticos mais isolados, os problemas de manutenção e conservação já começam a ser notados. São mais de 300km de estradas internas que necessitam de constantes intervenções. Ao todo, 173 sítios arqueológicos estão abertos à visitação e precisam de diferentes ações.

A Petrobras é uma das maiores parceiras do Parque Nacional Serra da Capivara, mas os repasses têm diminuído a cada semestre e não são suficientes para manutenção da reserva. O Governo do Piauí também vem ajudando dentro das suas possibilidades, evitando um caos ainda maior. Recentemente, o Piauí liberou uma parcela de R$ 160 mil de um convênio entre a SEMAR e a FUMDHAM que estava em atraso desde o governo passado. A vice-governadora Margarete Coelho (PP) teve que intervir pessoalmente para que os recursos fossem repassados.

Para evitar um colapso do projeto, constantemente a pesquisadora Niéde Guidon, 82 anos, utiliza os veículos de comunicação do Brasil e do exterior para alertar que o parque pode ser fechado. Para quem não conhece a realidade, as “ameaças” soam como chantagem, exagero ou “mise en scène” – expressão francesa que está relacionada com encenação.

Niéde é brasileira, ao contrário do que muitos pensam. Nasceu em Jaú, interior de São Paulo, mas deu sua vida ao Piauí, 40 anos de dedicação exclusiva. É descendente de franceses, por isso, foi buscar especialização em arqueologia na terra que mais entende do assunto – na época o Brasil não oferecia cursos públicos de graduação ou pós-graduação nesta área. Hoje, a realidade é outra e várias universidades federais, a exemplo da UFPE, UFPI e UNIVASF, oferecem cursos de arqueologia, um deles na pequena São Raimundo, resultado direto da sua saga que inclui o tombamento da reserva como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Foi a França, através da Universidade de Sorbonne, que pagou seu salário para que trabalhasse no Piauí nesses anos todos. O que poucos sabem, é que a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), entidade científica criada por sua equipe para coordenar os trabalhos na área, não dispõe de dotação orçamentária, não conta com recursos garantidos para manutenção do Parque Nacional Serra da Capivara – obrigação e responsabilidade do Governo do Brasil. Para pesquisa científica, parece que devido à importância e ineditismo dos estudos, nunca faltou verba. Isto fica claro nos constantes trabalhos apresentados que inclui livros com artigos e relatórios científicos.
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