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Intrigas, ironias, vitórias e derrotas: um ano na intimidade do poder

Durante 49 domingos, os principais atores da política brasileira ao longo de cinco décadas marcaram presença na série.

Em outubro do ano passado, um episódio curioso da História política recente do país, e que envolvia alguns dos principais personagens do poder, foi contado "sob a ótica" de Mora Guimarães: Tancredo Neves serviu de pistolão junto ao presidente Juscelino Kubitschek para a promoção a general do coronel Humberto Castello Branco. Por conselho do seu ministro da Guerra, marechal Teixeira Lott, JK explicou ao mineiro por que não incluíra o nome do diretor da Escola Superior de Guerra na lista de promovidos:

- O Lott me disse que Castello é conspirador, golpista, mau-caráter mesmo!

Convencido por Tancredo, JK promoveu Castello. Em 1964, o general foi um dos líderes do golpe militar e, na condição de primeiro presidente da ditadura, cassou os direitos políticos de quem o promovera. O episódio foi detalhado na série A História de Mora, de Jorge Bastos Moreno, que O GLOBO começou a publicar em16 de outubro de 2011, e que amanhã chega ao final.

Durante 49 domingos, os principais atores da política brasileira ao longo de cinco décadas marcaram presença na série. Ainda faltando o capítulo final, 203 personagens foram mencionados num enredo marcado por vaivéns no tempo, humor e uma delicada nostalgia da História vivida. Logo na estreia, nomes como Fernando Collor, José Sarney, Pedro Simon, Miguel Arraes e Orestes Quércia têm sua primeira participação: em foco, a reunião na qual a candidatura de Ulysses à Presidência em 1989 esteve ameaçada.

"Segundo Mora", ela viveu naquele momento seus 15 minutos de fama: "Acho exagero, mas dizem que eu acabei mudando a História do país ao enfrentar 20 ou mais governadores do país que tentavam impedir a candidatura de Ulysses, na primeira eleição pós-ditadura. Ou seja, barrar o sonho de uma vida inteira." Presente ao encontro do marido com os adversários de sua candidatura, Mora teria desarmado Pedro Simon, então governador do Rio Grande do Sul, escolhido pelos colegas para "botar o guizo no gato, o que na política significa descartar alguém". "Na hora em que ele começou a falar,(...) fixei meu olhar sobre ele. O Pedro sabia o que o meu olhar estava lhe dizendo. E ele acabou não dizendo coisa com coisa".

No decorrer da série, Moreno descreve a relação de Ulysses com Tancredo, que dividiu com o "Senhor Diretas" o protagonismo da oposição parlamentar à ditadura. É o relato de uma amizade cheia de reviravoltas, recheada de ternura, cumplicidade e traições.

As memórias póstumas de Mora são, na verdade, a história das vitórias e, também, das quedas do marido, na qual sempre sobressai uma característica dele: "Meu marido sempre teve uma capacidade imensa de se sobrepor aos fatos. Nunca fica a reboque deles. Dizia, com razão, que a sua filosofia era a do herói francês: "Estou cercado, eu ataco"", "escreveu" Mora, companheira de Ulysses desde 1956, ano do casamento, quando ele exercia pela primeira vez a presidência da Câmara dos Deputados, até 12 de outubro de 1992, quando o casal morreu na queda de um helicóptero, no mar de Angra dos Reis.
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