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Inclusão de multiprofissionais nas escolas pode prevenir violência

Em pesquisa divulgada em 2019 pelo OCDE, 28% dos diretores entrevistados afirmaram ter presenciado cenas de violência e intimidação dentro do ambiente escolar.

Um episódio de violência dentro de uma unidade de ensino chocou o Brasil na última segunda-feira (27), um estudante de 13 anos esfaqueou três professores e um colega em uma escola do estado de São Paulo. Na ação, uma professora de 71 anos, não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. 

 A violência dentro das escolas não é algo novo, em 2019, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgou uma pesquisa que apontava o Brasil como líder no ranking de violência escolar, dos entrevistados, 28% dos diretores de unidades de ensino, afirmaram ter presenciado situações de intimidação ou bullying.

Em entrevista ao Viagora, a psicopedagoga Lusani Moura Soares, falou a respeito de ações para prevenir situações violentas dentro do ambiente escolar, a profissional explicou a necessidade das instituições de ensino  em incluir em seus quadros profissionais da psicologia especializados, para prevenir violências físicas e psicológicas.

Foto: Reprodução/ Arquivo PessoalLusani Moura Soares, Psicopedagoga.
Lusani Moura Soares, Psicopedagoga.

“ Em primeiro lugar, quem administra uma escola precisa ter um entendimento básico, precisamos de um psicólogos nessas escolas. O psicólogo escolar tem que atuar na administração, no corpo docente, e discente de uma forma extremamente capacitada, com estratégias para trabalhar essas relações interpessoais, que favoreçam um bom trabalho de relação, que esses alunos comecem a se humanizar para prevenir violências. Prevenir  o bullying, a violência física, psicológica”, explicou.

Questionada se a presença de um profissional de psicologia dentro da  escola onde ocorreu o ataque, a psicopedagogia afirmou que um profissional capacitado teria identificado e agido para prevenir o ato de violência.

“ Sim, não tenha dúvidas.Quando tem um psicólogo dentro do ambiente escolar, e esse psicólogo acompanha de forma devida, trabalhando com estratégias, que seja significativa para esse corpo tanto docente quanto discente. O docente é para auxiliar esse professor a ter um olhar significativo para esse aluno e realmente detectar aqueles que estejam mais comprometidos, com mais dificuldade. Não tenho dúvidas, que profissional de psicologia trabalhando com estratégias dentro do âmbito escolar, esse caos que está acontecendo nessas escolas brasileiras, e mesmo do mundo, estaria bem melhor. Agora, precisa realmente de um profissional competente, um profissional que entenda das relações, um profissional capacitado que possa capacitar o corpo administrativo,  docente e discente”, disse.

Lusani Moura falou também que a escola deve ficar atenta ao estado mental das crianças e adolescentes, pois, uma vez fragilizada, vai necessitar de assistência da família e de um profissional que atue em ambiente clínico. “Precisam de acompanhamento sim, quando a criança está fragilizada emocionalmente, juntamente com um profissional da psicologia que tenha competência para trabalhar com essas crianças. Se faz necessário sim, essa criança precisa de um olhar, acolhimento, orientação, não tenho dúvida disso”, falou.

Para prevenção de atos de violência como os presenciados em São Paulo, e até mesmo situações menos fatais, é necessário incluir o poder público e instituições públicas no  debate. A mestre em sociologia e professora do Instituto Federal do Piauí(IFPI), Luciana Farias, explicou que a discussão a respeito da violência nas escolas é complexa e deve-se levar em consideração pesquisas realizadas por universidades sobre  a educação, o ambiente escolar, e os profissionais que compõem a equipe. Para ela  o corpo escolar possui um déficit, que deveria ser composto, além do professor, vigia, técnicos e merendeiras, integrar assistentes sociais e psicólogos, além de  aproximar a família das ações de prevenção.

Foto: ReproduçãoLuciana Farias, Mestre em Sociologia.
Luciana Farias, Mestre em Sociologia.

“ É necessário ter uma equipe multiprofissional de assistentes sociais, psicólogos, para que possa acompanhar esses alunos, essa trajetória de como ele vem, do ambiente familiar. É preciso que as escolas desenvolvam essa prática de ter um diagnóstico de seus alunos, de como ele chega na escola, se aquele aluno demonstra algum tipo de reação  mais violenta em alguma situação, é preciso que a escola investigue e vá até a família desse aluno, e faça um trabalho”,  expressou.

A professora expõe também que a escola como um todo precisa fazer um diagnóstico tanto socioeconômico, como de desenvolvimento do estudante, pois, esse conhecimento sobre o aluno vai facilitar as ações que precisam ser efetuadas. Ela também fala que não vê debates sobre esse tema no governo federal.

“ É preciso que faça esse link entre aquele aluno que chega na escola, o diagnóstico que  escola tem que ter, socioeconômico, de desenvolvimento, de como chega na escola, o que está levando, porque ninguém chega na escola vazio, você  vai levando valores e comportamentos que você adquire no primeiro espaço de socialização que é a família. Nesse entendimento eu não vejo nem no congresso uma discussão mais apurada acerca do enfrentamento a essas violências que têm sido constantes”, falou.

Luciana Farias afirmou que para tratar de um debate tão complexo o poder público, precisa melhorar a composição dos profissionais que ali atuam, outra atitude a ser tomada é a aproximação das escolas com a comunidade, além de um cultivo da cultura da paz dentro do ambiente escolar.

“ É algo que é muito complexo, mas em primeiro momento eu acredito que o poder público tem que desenvolver ações que possam melhorar a composição dos profissionais que fazem a escola, e aproximar a escola da comunidade, construir sobretudo uma cultura de paz dentro do ambiente escolar, para isso é preciso que a escola esteja alinhada com a comunidade e com as famílias que lá colocam seus filhos e filhas para estudar”, declarou.  

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