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Juiz mantém depoimento de réus do caso Cachoeira nesta quarta

Defesa pediu adiamento do interrogatório; primeiro a falar foi Lenine. Foram ouvidas 4 testemunhas; decisão sai em 1 mês, estima juiz do caso.

O juiz Alderico Rocha, que comanda as audiências referentes ao processo da Operação Monte Carlo, negou pedidos da defesa para adiar os interrogatórios dos sete réus da ação, entre os quais o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Antes do início dos depoimentos dos acusados de compor o grupo, ele concedeu 20 minutos para os advogados conversarem com seus clientes.

Às 16h05 começou a falar o primeiro réu, Lenine Araújo,apontado como braço-direito de Cachoeira. São oito réus na ação, mas um está foragido e não será ouvido, Geovani Pereira da Silva, acusado de ser o contador da quadrilha.

O juiz determinou que todos os demais réus fiquem em uma sala ao lado do local onde acontece o interrogatório. A ordem dos demais depoimentos dos outros 6 réus não estava definido.

Além de Cachoeira, apontado como líder do suposto esquema que utilizou agentes da polícia para exploração do jogo ilegal, também são réus Gleyb Ferreira da Cruz, apontado na denúncia como auxiliar do contraventor; Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, suspeito de ter feito grampos ilegais a mando de Cachoeira; Wladimir Garcez, apontado como elo entre Cachoeira e o governo de Goiás; José Olímpio de Queiroga Neto, suspeito de atuar na abertura e fechamento de pontos de jogo ilegal; e Raimundo Washington Queiroga, irmão de José Olímpio.

Os advogados tentaram, sem sucesso, impedir o interrogatório dos réus. O advogado Leonardo Gagno, que defende três dos réus - Dadá e os irmãos Queiroga -, pediu o adiamento. "Que os interrogatórios sejam realizados após a perícia de todas as mídias eletrônicas apreendidas na casa dos réus, a fim de garantir a defesa na sua forma ampla."

Outros advogados, como Dora Cavalcanti, de Cachoeira, e Ney Moura, de Wladimir Garcez, endossaram a argumentação e pediram que o acusado só respondesse perguntas após consultar o advogado.

O procurador Daniel Resende foi contra os pedidos e afirmou que os acusados podem usar o direito constitucional de ficar em silêncio. "Mesmo que queiram falar, eles sequer têm o dever de falar a verdade."

O advogado Ricardo Sayeg, que defende Lenine, pediu também a nulidade dos áudios grampeados que sustentaram a denúncia. "A defesa sustenta a absoluta nulidade de todo o monitoramento e interceptação telefônica", disse, atribuindo o pedido ao depoimento das testemunhas de acusação que falaram sobre como eram ouvidas as ligações grampeadas.

A fase de questionamento dos interrogatórios durou uma hora e meia. O juiz negou todos os pedidos apresentados e manteve os depoimentos. "Não vejo como deferir o pedido para que o acusado só responda perguntas após consultar seu advogado. [...] Não vejo como deferir realização de interrogatórios apenas após perícias," afirmou Alderico Rocha.

Depoimentos

Prestaram depoimento na parte da manhã dois agentes da Polícia Federal, Renato Moreira e Daniel Guerra Ferreira. Os procuradores do Ministério Público Federal, que indicaram os nomes como testemunhas de acusação, abriram mão de fazer perguntas. Os advogados dos réus fizeram diversos questionamentos sobre a atuação da PF na operação e a forma com que as ligações telefônicas interceptadas foram analisadas. (Ouça no vídeo ao lado alguns trechos do interrogatório)

Depois disso, o juiz Alderico Rocha suspendeu a audiência para almoço, e os trabalhos foram retomados com o depoimento de testemunhas indicadas pelos réus. A testemunha Elizer Clemente disse que conhece o acusado Wladimir Garcez há 30 anos e que trabalhou com ele pois ambos são cirurgiões-dentistas. "Ele sempre foi muito correto."

Também indicado como testemunha, Luiz Otávio Vieira da Paixão afirmou que também conhece Garcez há 30 anos. "[Garcez] tem uma família muito unida, muito bonita. Não tem nada que conheço que desabone ele."

Julgamento

O magistrado falou no início da audiência desta quarta que o julgamento dos réus deve demorar cerca de um mês. Após os interrogatórios, haverá prazo para a conclusão das diligências e, posteriormente, os advogados poderão apresentar as alegações finais antes de uma decisão da Justiça de primeiro grau. Depois disso, se condenados, ainda podem à segunda instância, que é o Tribunal Regional Federal.

Alderico Rocha afirmou que, se decidir pela condenação ou absolvição, será de acordo "com a consciência" e por "convicção absoluta".

"Eu disse, jamais eu vou afrontar minha consciência, seja para condenar, seja para absolver. Vocês podem ficar tranquilos que se eu vier a condenar um dos senhores é porque eu tenho convicção absoluta", afirmou o magistrado.

Os réus respondem aos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas, violação de sigilo profissional. Além disso também foram enquadrados em contravenção penal pelo jogo ilegal.

Bate-boca

Durante a manhã, o procurador da República Daniel Resende e o advogado Douglas Dalto Messora, que defende Gleyb, bateram boca durante a audiência.

Enquanto falava o agente da Polícia Federal Renato Moreira, Messoramencionou que o policial disse que fazia "dedução" em relação aos dados contábeis dos acusados. O procurador, então, argumentou que o agente deixou claro que fazia dedução com base no relatório de contabilidade.

"O senhor fala e eu fico quieto. Fica o senhor quieto e eu falo", disse o advogado, que completou, se dirigindo à testemunha: "O senhor tem um bom defensor".

O procurador rebateu: "Não, eu sou o fiscal da lei." O advogado disse: "O senhor é fiscal da lei e eu sou defensor." Em tom de voz alto, falou o procurador: "O senhor colocou palavras na boca da testemunha. Quem tem que se colocar no seu lugar é vossa excelência."

O juiz do caso, Alderico Rocha, interviu e pediu que o advogado continuasse com as perguntas. O advogado disse: "Vou tirar a palavra dedução porque o ilustre procurador fica chateado."

Gravata rosa
O bicheiro Carlinhos Cachoeira chegou pouco antes das 9h desta quarta à sala de audiências. Ele chegou vestido com um terno cinza claro, camisa branca e gravata rosa. Acompanhado de agentes armados da Polícia Federal, ele cumprimentou com sorriso a mulher, Andressa Mendonça, e familiares que acompanham a audiência.

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