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Polícia Civil investiga o sumiço de português no Rio de Janeiro

Pouco antes de desaparecer, o comerciante foi procurado por dois policiais e um comerciante conhecido apenas como "Espanhol".

Uma milícia que atua na Zona Oeste do Rio pode estar por trás do desaparecimento do comerciante português Delfim Venâncio Pinto, de 54 anos, na quinta-feira da semana passada. Esta é uma das linhas de investigação da Polícia Civil e, se comprovada, ratifica os resultados de uma pesquisa dos sociólogos Ignácio Cano e Thais Duarte, do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Uerj. O trabalho, publicado pelo GLOBO quinta-feira, traça um novo perfil dessas quadrilhas e uma prática cada vez mais comum: o desaparecimento dos corpos das vítimas.

Pouco antes de desaparecer, o comerciante foi procurado por dois policiais e um comerciante conhecido apenas como "Espanhol". Os três teriam oferecido cerca de R$ 70 mil a Delfim para ficar com o ponto onde ele instalou o restaurante Plebeus, num dos trechos mais valorizados da Praia do Pontal, no Recreio.

O caso, segundo policiais da 42ª DP (Recreio), passou a ser investigado sob sigilo desde a última quinta-feira, quando o desaparecimento completou uma semana. Procurados pelos GLOBO, parentes não quiseram falar. Eles alegaram que declarações, neste momento, podem atrapalhar o trabalho da polícia.

Policiais civis só instauraram um inquérito policial na última segunda-feira, quatro dias depois do desaparecimento. Eles admitem que Delfim pode estar morto. A delegada Adriana Belem, titular da 42ª DP, não foi encontrada para falar sobre o assunto.

Moradores do Recreio e comerciantes vizinhos ao restaurante contaram que Delfim abriu o Plebeus em 2008, transformando o local em ponto de encontro de famosos e artistas. O sucesso do negócio teria atraído o interesses do tal "Espanhol". Em maio, Delfim confidenciou a colegas que o tal comerciante, sempre acompanhado de dois policiais, passou a assediá-lo com a proposta de ficar com o ponto. O negócio não foi à frente porque a dona do imóvel não teria concordado.

VÍtima iria passar o ponto

Na quinta-feira, dia em que desapareceu, o português disse a outros comerciantes do Recreio que finalmente iria fechar negócio, mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu depois. O que os policiais descobriram até agora é que um advogado e a dona do imóvel apresentaram na delegacia um recibo assinado por Delfim, datado do dia de seu sumiço, no qual ele não só passava o ponto para ela como também reconhecia ter recebido R$ 20 mil pela transação.

O restaurante Plebeus fica na Avenida Gilka Machado, a menos de 300 metros da Praia do Pontal, mas foi construído numa área de invasão. No endereço deveria passar um trecho da Avenida Ernesto Trotta, mas várias construções foram erguidas no local.

Na pesquisa sobre as milícias, Cano e Thais descobriram que os grupos paramilitares continuam fortes, matando tanto ou mais do que no passado em comunidades pobres do Rio, sobretudo na Zona Oeste. Agora, no entanto, estariam atuando com muita mais discrição. No lugar de expor os corpos das vítimas de execuções, os grupos estariam desaparecendo com os cadáveres. O aumento do número de registros de pessoas desaparecidas é a principal descoberta da pesquisa, intitulada "No sapatinho: a evolução das milícias no Rio de Janeiro".
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Willame Moraes

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