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"Eu não tenho projeto pessoal, eu não tenho projeto de poder", diz Elmano Férrer

Confira entrevista exclusiva com o prefeito de Teresina e candidato à reeleição, Elmano Férrer.

Candidato à reeleição, o prefeito de Teresina, Elmano Férrer (PTB), reforça, às vésperas do segundo turno, o apelo para que os eleitores da capital façam a comparação entre os dois anos e meio de sua administração e os 24 anos da administração PFL-PSDB (entre 1989 até março de 2010). O petebista quer convencer a população de que a cidade nunca teve tanto desenvolvimento nesse curto período do que quando foi administrada, nessa ordem por Heráclito Fortes, (1989-1992), Wall Ferraz (1993-1995), Francisco Gerardo (1995-1996), Firmino Filho (1997-2004) e Silvio Mendes (2005-2010). "Avançamos nas áreas de menor poder aquisitivo, na aplicação de R$ 40 milhões do orçamento popular. E paralelamente a essa política social, nós começamos a nos voltar para os projetos estruturantes importantes, que eles (referindo-se ao PFL - hoje DEM - e ao PSDB) não fizeram ao longo de 24 anos", ressaltou o prefeito. Na entrevista exclusiva a O DIA, Elmano rebateu ainda as críticas que vem recebendo de Firmino, que vem acusando o prefeito de estar do lado dos poderosos. "Projeto de rico é o deles. Do lado dos pobres estamos nós", frisou.


Nos programas eleitorais foi possível perceber que houve uma mudança no seu discurso. As críticas ao seu adversário estiveram mais fortes neste segundo turno. O que foi que gerou essa mudança?

Desde 2010, quando eu assumi [a Prefeitura de Teresina], o candidato Firmino Filho, que era vereador da cidade de Teresina e pré-candidato a prefeito da cidade para um terceiro mandato, já começou fazendo algumas críticas ao grupo que estava formando a nossa administração. Nós estávamos executando um projeto para a cidade que era diferente do modelo antigo e ele (Firmino) percebeu isso. Começou a perceber, através de minha administração, que o Elmano era uma ameaça [à pré-candidatura de Firmino]. Naquele tempo, não se falava ainda em eleição municipal, e sim estadual, o Firmino era vereador, já candidato a deputado estadual e com vistas à eleição de 2012. Ao tempo em que eu levantava a tese de uma administração compartilhada e participativa, com ênfase no orçamento popular, que sempre foi uma peça de retórica, retomada a cada eleição, eu comecei de fato a trabalhar as aspirações do orçamento popular, que tem a participação da população. Ele esperava que a cadeira de prefeito seria um mandato tampão, guardadinho para o retorno dele. Avançamos nas áreas de menor poder aquisitivo, na aplicação de R$ 40 milhões do orçamento popular. paralelamente a essa política social, nós começamos a nos voltar para os projetos estruturantes importantes, que eles (referindo-se antigo PFL - hoje DEM - e ao PSDB) não fizeram ao longo de 24 anos. Eles tiveram uma grande oportunidade de fazer isso.

Então esse seu discurso é uma resposta?

Então, isso foi crescendo. Quando foi nas eleições, realmente ele começou a meagredir. Querer desqualificar uma administração que a população começa a ver e a aprovar, tanto é que 80% aprovaram a nossa administração. Então, aquilo cansou e os próprios coligados, aliados, lideranças do meu partido reclamavam uma ação mais concreta, contundente. Eu vou continuar no alto nível. Eu não agrido, eu não minto, eu não calunio, eu não estou morrendo pelo poder como ele. Eu não tenho projeto pessoal, eu não tenho projeto de poder. Ele é que tem um projeto de poder, um projeto pessoal, político-partidário. Eu tenho um projeto de cidade. E cada dia que se passa ele se inquieta mais porque há um avanço da nossa administração. E principalmente agora que nós provamos que não somos do lado dos ricos. Nós não somos ricos. Nós estamos provando que rico é o partido dele, que nasceu do centro dinâmico, econômico e financeiro do Brasil, que é São Paulo.

Integrantes do PSDB e aliados aos tucanos têm o acusado de liderar a "formação de um blocão dos poderosos, dos ricos". O senhor acredita que a população entende que a junção de 18 partidos em torno de uma candidatura é positiva? Faz parte de um projeto de Governo?

Pelo contrário, é visto com bons olhos porque nosso projeto é de cidade. Projeto de rico é o deles. Projeto que ele dizia que as pessoas que estão com ele fizeram uma oligarquia. Quer dizer ele atacou, por exemplo, hoje ele está com Hugo, com Heráclito, Julio César e agora o Mão Santa. Quando o Mão Santa foi cassado (do mandato de governador) e o Hugo [Napoleão] assumiu, Firmino foi receber o Mão Santa lá no aeroporto, foi de cara-pintada, fez um cerco no Palácio de Karnak, e dizia "Oligarquia nunca mais" (numa crítica a Hugo). O que aconteceu logo em seguida? Ele, que é pau mandado, ele foi a Brasília, como pré-candidato a governador do Estado, ele tinha todas as condições de sê-lo. Alguém disse: "Olha, você não pode ser candidato". Alguém desmoronou todo o sonho pessoal dele de ser governador naquela época, em 2002. Então ele veio com uma ordem de apoiar o Hugo Napoleão na candidatura à reeleição e ele (Firmino) indicou o vereador Fernando Said para ser vice de Hugo. Quer dizer, aquilo foi tido como uma traição. Ele traiu o povo naquele momento. Então, o partido dele é o partido dos ricos e da elite intelectual de São Paulo, encabeçado pelo Fernando Henrique Cardoso. Ele sim, é do partido dos ricos.

Com esse grande número de aliados, o senhor pode ter problema de governabilidade, para acomodar todos esses partidos, caso o senhor seja reeleito?

Problemas eu tive de toda ordem e natureza na minha administração. Inclusive, eles (PSDB) não queriam, nunca implantaram a integração, por exemplo. Ele procurou descaracterizar a integração e eu continuei enfrentando desafios e problemas, por exemplo, na herança que me foi dada. Eu herdei uma herança muito, muito brutal (doPSDB), que em dois anos, muitas delas eu comecei a enfrentar. Então eu estou preparado para enfrentar desafios e problemas administrativos e problemas políticos. Estou preparado para isso, mais do que ele sob todos os aspectos. Ele, que passou 18 anos na prefeitura, oito como prefeito, oito como secretário de Finanças, e dois como dirigente da saúde (presidente da Fundação Municipal de Saúde). Aparelharam a máquina toda! Cheio de gente deles. Eu deixei, porque eu sou aberto, democrático. Democracia é a minha. Identificado com os pobres sou eu. E não ele.

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarEntrevista com Elmano Férrer(Imagem:Reprodução)Entrevista com Elmano Férrer
Falando em grandes empresários, prefeito. A sua relação partidária com o senador João Vicente Claudino, que é da família que tem o maior poder aquisitivo do Piauí, e agora com o senador Ciro Nogueira, que também é empresário, pode prejudicar sua campanha?

Olha, veja, o Tasso Jereissati, que é uma das maiores expressões políticas do Ceará, que ele trouxe, para cá, para a filiação você sabe de quem? Do senador João Vicente Claudino, ao partido dele (o PSDB). Ele trouxe o Tasso, ele falava no grande modelo de gestão, a experiência vivida, trouxe o maior empresário do Nordeste, um dos maiores do Brasil. Ele trouxe para cá para a filiação do senador João Vicente, foi o primeiro partido que JVC se filiou a convite dele. Então você veja como são as coisas. A verdade tem que ser restabelecida. Então ele decantava naquela época: eu me relaciono com o grande empresário que gera riqueza, geraemprego. Agora mesmo nós acolhemos aqui em Teresina o grupo Sá Cavalcanti, que tem uma rede de shoppings no Brasil. Teresina precisa de investimentos, na indústria e no comercio. E ele não soube fazer isso. Aliás, o Pólo Empresarial Sul que tinha 48 hectares, ele trouxe uma grande empresa do Ceará, que ocupou 25% da área do pólo. Ela nunca chegou a ser implantada. Isso aqui é grave, isso aqui é sério. Isso é para mostrar que quem deu incentivos a Credishop foi ele, não foi o prefeito Elmano. De outra parte, ele sempre esteve ao lado desse grupo. Tanto é que levou o senador João Vicente. Mas o senador percebeu que lá é um grupinho pequeno, fechado, que ninguém entra. E eu? Eu não entrei no grupo, eu fui vice do [então prefeito] Silvio Mendes na campanha de 2004. Tomei posse no dia primeiro de janeiro. No dia 15 de março, 75 dias depois eu já era secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Wellington Dias, mesmo sendo vice-prefeito.

O senhor vivenciou uma verdadeira celeuma com o Partido dos Trabalhadores (PT). Teve apoio do partido em sua administração, em sua pré-campanha, mas o partido resolveu lançar candidatura própria. E agora, no segundo turno, recebe de volta o apoio do PT. Caso o senhor seja reeleito, o PT teria uma acomodação na nova gestão?

E muitos vieram para mim agora e disseram: olha, [o PSDB] me ofereceram isso, ofereçam isso. Olha, eles, ele (Firmino) está retalhando, prometendo tudo. E eu disse "porque você não foi?" Eles responderam: "Porque eu não acredito neles". Quer dizer, é o que estão me dizendo as pessoas que ele chamou. Você sabe que ele (Firmino) procurou o PT. Até o PT? Eu não acreditei. Isso é incoerência. Ele procurou Wilson Martins. Como é que eu vou procurar o cidadão político, o governador que meu partido move quase 30 ações para cassar o mandato dele? Meu Deus, onde está a coerência política desse cidadão? Então, [ele] está fazendo tudo para voltar ao poder. Em conversas com correligionários meus, eu disse: "Olha, isso aqui não é balcão de negócios, somos uma reunião por Teresina. Nós não negociamos vantagem nesse tipo de coisa, como cargos". Ele já deu cargos para a prefeitura, já teve cargos que ele prometeu três vezes para três pessoas. Isso não é postura de político. Eu tenho caráter, eu tenho dignidade. Eu tenho moral, eu tenho princípios, eu tenho alguns costumes, não morro por isso. Eu estou pedindo que a população me avalie. Comparem meus dois anos e alguns meses com os oito anos dele. Compare meu projeto com todos os 24 anos deles.

O senhor apresentou aos eleitores a presidente Dilma e o ex-presidente Lula pedindo apoio à sua campanha. A presença de Lula, por exemplo, na campanha de 2010 foi muito importante para os candidatos que o ex presidente apoiava. Nesta eleição, Wellington Dias usou a imagem de Lula e Dilma. Não foi para o segundo turno. O senhor acredita que a aparição dos dois petistas terá o efeito esperado?

Claro, quem começou a fazer a transferência de renda neste país? Quem assumiu a Presidência da República em 2002 e disse: "Olha, eu quero terminar o meu mandato assegurando a cada um dos brasileiros odireito de comer pelo menos três vezes por dia". Porque tinha fome! Então, o Lula,através de programas de inclusão social, de geração de riqueza e empregos, ele mudou a vida de muita gente nesse Brasil. Foram quase 40 milhões de pessoas que saíram da situação de pobreza, de um estrato social classe D e foram para a classe C. O Brasil ganhou um novo segmento de consumo, começando pelos alimentos. O Lula começou a fazer a inclusão social e de outra parte, a presidente Dilma deu continuidade e disse: "Olha, não há país rico com miseráveis". O Brasil, com quase 200milhões de brasileiros, tem ainda 16 milhões de miseráveis. E ela está com uma série de políticas para erradicar a miséria deste país. Então, esse é o lado que eu estou. Se vai surtir efeito? Vai sim. Se ela (Dilma) teve, se ele (Lula) tem, eu sempre tive na minha vida preocupação com as desigualdades sociais. Aliás, quando saí da universidade, eu entrei num órgão responsável pelo desenvolvimento de uma região, pela redução das desigualdades regionais e interpessoais. Estou fazendo uma administração voltada nos princípios que eu internalizei, que eu não abro mão. O que ele está fazendo?

O PSB do governador Wilson Martins, assim como o PCdoB de Osmar Júnior, declararam apoio à sua campanha. Mas, membros dos dois partidos, como Robert Rios, Lázaro do Piauí e Beto Rego declararam apoio a Firmino Filho. A saída deles vai trazer prejuízos à sua campanha?

De maneira nenhuma. Eles estão lá por conveniências. Quais são, eu não sei. O Robert Rios Magalhães, que é secretário de Segurança, devia estar era tratando disso (da segurança do Estado). Agora, para mim não altera nada a ida deles, porque inclusive, como é que o povo vai ver isso aí? Então isso aí são outros interesses que não são interesses da cidade, do povo.

O que o senhor considera que será decisivo para o segundo turno?

Nós temos dois modelos. Tem que convencer o povo. Quem está com quem? Estou com quem? Estou com os mais pobres. De que forma? Do lado do Bolsa Família, quem fez o Minha Casa Minha Vida, que fez a transferência de renda. Em execução está o modelo de gestão diferente, participativa,popular, não é populista. Com força do desenvolvimento, do progresso, a força daqueles que estão desconstruindo essas desigualdades sociais. Eles têm um projeto da oligarquia daquelas coisas, está todo mundo indo para lá. Os ricos estão indo lá. Pessoas que estão contra o Lula, a Dilma, contra os mais legítimos interesses dos que mais precisam da ação do poder público. O povo é que vai decidir. Eu vou mostrar que os ricos são eles, não somos nós. De um lado, a inclusão social, e não uma panelinha, um grupinho. Aí você diz: "Ah, você (Elmano) esteve lá". Eu digo, estive, mas como vice-prefeito. Nunca entrei. O senador João Vicente percebeu que era uma a panelinha, aí eles tiraram o JVC, acharam que ele tava ameaçando o Firmino. Tanto é o Wilson Martins não ficou lá, que foi presidente do partido dele (Wilson é ex-integrante do PSDB). Só estou falando os maiores. E o [ex-senador] Freitas Neto está só esperando aí para sair.

Qual a mensagem que o senhor deixa para a população?

A mensagem é que eu trago é o projeto cidades, projeto que está em fermentação e que a população avalie esse projeto. Entrego o meu projeto, a minha candidatura ao povo. O povo é quem vai decidir. Essa guerra pelo poder eu não tenho. Eu já estou realizado na minha vida como servidor público. Minhas amizades são as mesmas, meu modus vivendi é o mesmo. Tudo na vida é passageira. Tenho muito comprometimento, muito amor à cidade e ao povo de Teresina.
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