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IBGE inicia Censo nos quilombos do estado do Piauí

Conforme o IBGE, o quilombo foi escolhido para sediar o início desta coleta entre os quilombolas do Piauí. O evento que marca este começo será realizado no Clube J. Show, localizado no Mimbó.

Nesta quarta-feira (17), as equipes do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciaram as entrevistas para coleta de dados do Censo Demográfico 2022 no Quilombo Mimbó, localizado a cerca de 1 km na rodovia BR-343, zona rural do município de Amarante.

Conforme o IBGE, o quilombo foi escolhido para sediar o início desta coleta entre os quilombolas do Piauí. O evento que marca este começo será realizado no Clube J. Show, localizado no Mimbó. Estarão no local representantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e dos moradores e lideranças locais.

Foto: DivulgaçãoIBGE
IBGE

A responsável técnica pelo projeto de povos e comunidades tradicionais do IBGE, Marta Antunes, explica que o órgão permitirá pela primeira vez neste ano a autoidentificação como quilombola.

A técnica relata ainda que com esta medida será possível conhecer com detalhes as condições atuais de vida a população, além de identificar os aspectos que necessitam de melhoria. “O Censo vai trazer uma realidade ainda desconhecida de muitos brasileiros”, afirma Marta.

De acordo com o IBGE, foram identificados pelo IBGE no Piauí 215 localidades quilombolas, incluindo territórios oficialmente delimitados ou não, distribuídas em 73 municípios. Em todo o Brasil, são registradas 5.972 localidades, em 1.672 municípios de 24 estados e do Distrito Federal.

O Quilombo Mimbó:

A comunidade que se denomina “quilombo” era conhecida por ser formada a partir de pessoas escravizadas que fugiam de fazendas, este espaço de resistência é mantido até hoje em diversas áreas do país, como o Quilombo Mimbó no Piauí.

Segundo o IBGE, a comunidade possui 203 anos e é composta por residências simples, distribuídas somente em cinco ruas, a principal delas e mais extensa é onde as casas ficam localizadas.

O IBGE ainda explicou que apenas uma escola é responsável por atender as crianças do quilombo até o 5º ano do Ensino Fundamental, além disso a comunidade conta com um posto de saúde em funcionamento. Os moradores têm acesso à energia elétrica, água e internet.

A líder do local, dona Idelzuíta Paixão, relata que os moradores lutaram para conquistar seus direitos básicos, que ainda é mínimo, e que o preconceito no acesso a essas garantias ainda é marcante para os descendentes de escravizados.

“Ainda temos muita dificuldade com relação à escola, porque precisávamos que os professores viessem de Amarante para dar aulas aqui e muitos não queriam vir. Até que nos revoltamos porque os professores não queriam vir pra nossa comunidade, porque é uma comunidade de preto”, afirma.

Dona Idelzuíta Paixão explica ainda que o quilombo se orgulha de possuir moradores com ensino superior e que a comunidade terá a oportunidade de ter professores do próprio local, com representatividade e entendimento de causa, ensinando as crianças.

“Hoje, quase todo mundo da comunidade está fazendo faculdade, para que não precisemos buscar ninguém lá fora para trabalhar aqui. Queremos professores daqui mesmo, porque assim temos como repassar para as crianças como é a vida e a cultura do povo negro”, afirma.

A líder quilombola também destacou que as condições de trabalho dos quilombolas ainda se dá por meios exaustivos, através a agricultura, roça e carvão. Contudo, dona Idelzuíta ressalta que o importante é se manter unidos nesta luta e pela manutenção do quilombo. “O povo aqui trabalha na agricultura, fazendo carvão, na roça, na farinhada. É uma vida muito difícil, mas a gente resolve”, relata.

Sobre o início da fundação do Quilombo Mimbó, dona Idelzuíta relata que seus antepassados se estabeleceram na região fugindo do sistema escravagista que eram submetidos em Pernambuco.

“Eles passaram mais de 25 anos na caverna. Aí quando eles viram que não seriam mais procurados pelos brancos, fizeram casinhas de palha na beira do riacho Mimbó”, afirma.

Por fim, a líder explicou a importância da nova autoidentificação do IBGE como “quilombola”, e afirmou que "é uma novidade muito boa, que a gente não esperava. Cada vez mais, coisas melhores estão entrando na nossa comunidade e a gente se orgulha disso”, finaliza.

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