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Linfoma no Brasil: a complexidade e os desafios do câncer no sangue

O Dia de Conscientização sobre Linfomas, celebrado em 15 de setembro, lembra a importância do diagnóstico precoce do oitavo câncer mais comum entre os brasileiros

Com cerca de 14 mil novos casos registrados anualmente no Brasil, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o linfoma é uma forma de câncer que afeta o sangue, mais especificamente os linfócitos, células essenciais para o funcionamento do sistema linfático, que compõe o sistema imunológico. Podendo ser considerado como linfoma de Hodgkin ou não-Hodgkin, a doença, apesar de ser a oitava forma mais comum de câncer entre os brasileiros, continua a ter pouca visibilidade no país.

O dia 15 de setembro, marcado como Dia Internacional de Conscientização sobre Linfomas, almeja reverter essa situação e fazer um alerta acerca do diagnóstico precoce da condição.

Condição complexa e variável, o linfoma causa a perda de controle de certo tipo de glóbulos brancos, os linfócitos, que são encontrados nos linfonodos. A divisão mais comum deste tipo de câncer é o não-Hodgkin (LNH), que, segundo informações do Ministério da Saúde, foi identificado em 74% dos 90 mil casos de câncer identificados entre os anos de 2010 e 2020. De difícil diagnose, o LNH é bastante diverso, com vinte diferentes categorias, cresce de forma desordenada e apresenta sintomas que podem ser considerados comuns e associados a diversas outras doenças, como coceiras na pele, febre, perda de peso e, sobretudo, o aumento de linfonodos do pescoço, axilas e virilha.

Sem motivo conhecido para o seu surgimento, a principal forma de diagnóstico do linfoma não-Hodgkin é a biópsia, procedimento em que pequenas frações do tumor são retiradas e devidamente observadas microscopicamente por especialistas, para que os sinais do câncer possam ser identificados, se existentes. Métodos adicionais que podem auxiliar na detecção da doença são a ressonância magnética, a punção lombar e a tomografia. É importante ressaltar que, assim como todas as outras doenças cancerígenas, a descoberta e o tratamento prematuros são essenciais para a qualidade de vida da pessoa diagnosticada em estágios menos avançados do LNH.

A paciente Conceição Marques, diagnosticada com linfoma não-Hodgkin no início de 2022, contou mais sobre a dificuldade do processo de descoberta da doença. “Percebi um nódulo na axila direita, mas pensei ser algo relacionado a mama, então procurei um mastologista. Ele solicitou exames mais detalhados que causaram desconfianças de que seria algo associado a outra parte do corpo. Assim, foi pedida a biópsia das duas axilas, e o resultado do exame me levou à oncologista, que solicitou um exame imuno histoquímico, com o mesmo material usado na biópsia”, disse ela.

“Logo depois, fui encaminhada para o hematologista e, pelo protocolo dos especialistas, tive que passar pela complicada biópsia da medula óssea que me deu o diagnóstico compatível com infiltração medular por linfoma não-Hodgkin folicular. O resultado apontou a necessidade da realização da quimioterapia, que durou cerca de seis meses”, completou Conceição.

Cada tipo específico do LNH requer um diferente tratamento, de acordo com o estágio e com a área do corpo afetada pela doença, porém, geralmente, é indicado que os pacientes passem por quimioterapia ou procedimentos associados, como a radioterapia. A agressividade da variação do linfoma não-Hodgkin também é um fator relevante na determinação do tratamento a ser utilizado.

Para os casos incuráveis, como o de Conceição Marques, a conclusão da quimioterapia não é sinônimo de remissão, mas sim de controle da doença. “Após a realização das quimioterapias, tenho que continuar fazendo acompanhamento médico trimestral, já que é um linfoma indolente e sem cura, com vários exames frequentes”, afirmou a paciente.

O Instituto Nacional de Câncer reforça que, até o momento, não há conhecimento de formas efetivas de prevenção para o linfoma não-Hodgkin. Entretanto, em relação às outras variedades de linfoma, as recomendações são semelhantes àquelas associadas a outros tipos de câncer, como a adoção de hábitos saudáveis, a atividade física frequente e a alimentação fundamentada em frutas, verduras e outras fontes de nutrientes. No ano de 2022, o tema abordado pelo Dia Internacional da Conscientização sobre Linfomas foi “Um Mundo de Agradecimento”, mostrando gratidão a todas as pessoas que convivem com a doença. Em 2023, a data celebrada em 15 de setembro volta a destacar a importância do diagnóstico precoce da condição, que possibilita o devido tratamento, muitas vezes de sucesso.

Câncer em mulheres

De acordo com estimativas feitas pelo INCA, mais de 170 mil casos de câncer devem ser registrados em mulheres no triênio 2023-2025. Com o linfoma não Hodgkin representando 2,3% dessa incidência, o câncer de mama lidera a lista, com 30,1%.

A psicóloga Clarissa Matos, especialista em psico-oncologia, falou ao Viagora sobre o impacto significativo do diagnóstico de câncer em pacientes mulheres. Segundo ela, esse momento traz diversas consequências, incluindo preocupações, ansiedade e angústia.

“Naquele momento do diagnóstico, muitas vezes, a mulher não consegue assimilar o que está acontecendo com ela, já que acaba sendo movida para vários médicos, vários exames. Então, o nome câncer ainda gera esse impacto e, geralmente, as mulheres enfrentam essa angústia inicial, esse medo, a insegurança de como será a vida a partir daquele momento. Isso depende de cada mulher, condição, rotina e rede de apoio, o que têm influência na forma de enfrentamento”, afirmou a especialista.

Clarissa ainda comentou acerca do impacto psicológico do câncer de mama em pacientes femininas. “Quando a mulher é diagnosticada como câncer de mama, existe uma recomendação muito importante: a avaliação psicológica. Não estou dizendo que todos aqueles que têm câncer precisam de um psicólogo, mas seria muito importante fazer essa avaliação, para avaliar o estado emocional da mulher e que recursos ela possui para enfrentar [o câncer]”, declarou.

Além disso, a psicóloga, que trabalha diariamente com paciente que passam por tratamento contra câncer, ressalta a importância do autocuidado durante esse momento. “Uma das principais características do autocuidado é o respeito, pelo corpo, pelo estado emocional. A paciente começa a fazer quimioterapia e não terá a mesma disposição todos os dias. Então, tentamos promover qualidade de vida e bem-estar para a mulher, levando-a para uma rotina o mais próxima possível de sua realidade antes do diagnóstico. É preciso incluir o tratamento na sua rotina e precisamos trabalhar com ela, levando em consideração todos os aspectos culturais, emocionais, sociais, financeiros, de uma forma que ela consiga enfrentar isso mais tranquilamente”, finalizou Clarissa.

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