Covid-19: “É importante cuidar da saúde mental”, diz psicóloga

A pandemia do novo coronavírus afetou diretamente a rotina e o convívio das pessoas. Devido à falta de tratamento específico e uma vacina contra o vírus, os órgãos de saúde pública recomendam o regime de quarentena e isolamento social como forma de prevenir o contágio.

A falta de convívio social e quebra da rotina pode ocasionar prejuízos à saúde mental das pessoas, desencadeando crises de pânico, ansiedade e até depressão. Em entrevista ao Viagora, a psicóloga Erlândia Oliveira, especialista em saúde mental, relatou quais os problemas que podem acontecer e os principais cuidados mentais que as pessoas devem ter durante esse período.

Viagora: O que o isolamento social pode causar às pessoas?

Psicóloga: Uma das reações mais frequentes é o medo, o medo de adoecer, de morrer, de perder as pessoas que ama. Também vem a questão de ser excluído, caso seja positivo para a Covid-19, porque tem o preconceito e as pessoas acabam sendo excluídas socialmente por estarem associadas à doença. Muitos são separados dos seus entes queridos, de cuidadores, devido ao regime de quarentena. E tem o medo de não receber o suporte financeiro, porque muitos ficaram sem trabalhar, já que estão ativos somente quem trabalha em serviços essenciais. Há também a sensação de impotência perante aos acontecimentos, que não podemos mudar ou não estamos no controle da situação. Isso altera a questão da irritabilidade, as pessoas podem ter mais conflitos pela questão do confinamento. Pode gerar também sentimento de desamparo, tédio, solidão, tristeza, mas principalmente o tédio, porque você perde a sua rotina de trabalho e estudos.

• Foto: Arquivo PessoalA psicóloga Erlândia Oliveira relatou quais cuidados devem ser tomados com a saúde mental durante a pandemia.

Viagora: Quais são as dicas para enfrentar esse período?

Psicóloga: As principais dicas que se tem para enfrentar essa pandemia, recomendadas pela OMS, são: estabelecer uma rotina diária para si e para a família, incluindo a alimentação e sono; realizar exercícios físicos, que muitos profissionais estão até dando orientações de como fazer isso em casa, já que a atividade física reduz o risco de surgimento de sintomas de depressão, ansiedade, estresse; realizar exercícios cognitivos, que podem ser feitos através de cursos online e leitura de livros, isso ajuda a pessoa se sentir mais produtiva, ter mais autocontrole da situação; realizar exercícios de relaxamentos, para diminuir sintomas de ansiedade e estresse e auxilia no foco e concentração; buscar conteúdos e práticas que reestabeleçam a confiança em si mesmo; é importante também ter uma alimentação saudável, que além de ajudar na questão da saúde física e do sistema imunológico, também ajuda na questão da saúde mental.

Viagora: O isolamento social pode causar depressão? Como evitar isso?

Psicóloga: O isolamento social pode sim ocasionar a depressão, assim como outros problemas de saúde mental. É importante ter um autocuidado diário com si próprio; manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo uma relação mesmo que virtual com os amigos, familiares e colegas do trabalho ou da faculdade; realizar exercícios de relaxamentos com as técnicas de respiração e meditação que ajuda no controle do estresse e da ansiedade promovendo assim, sensação de controle e o foco no momento presente no aqui e agora; fazer uma faxina diária do sono que também auxilia muito na qualidade do sono e consequentemente melhora sua imunidade.

Viagora: Depois que passar a pandemia os processos mentais irão mudar? Se sim, como?

Psicóloga: Com certeza irão ter significativas mudanças. A tendência é que a experiência de um confinamento e de isolamento social, assim como a experiência de suspensão das atividades corriqueiras, tem a trazer consequências na relação que você tem consigo mesmo e com os outros. Muito se diz que depois dessa pandemia, a gente não deve voltar ao antigo normal, devemos mudar muitos valores que temos hoje em dia, começar a dar importância a coisas que antes a gente não dava. Pode-se ter muitas repercussões negativas decorrentes desse período, tanto que o nosso maior foco será o cuidado com a saúde mental, porque todo esse confinamento está adoecendo as pessoas. Isso é algo muito novo, que a gente teve que se adaptar de forma muito rápida, estamos combatendo um inimigo que não se vê. Isso pode fazer com que muitas pessoas fiquem com a saúde mental fragilizada. O indivíduo não é preparado para esse isolamento, porque somos seres sociáveis. Depois dessa pandemia, devemos nos reinventar, aprender a nos adaptar às limitações. Então eu recomendo que as pessoas busquem o atendimento psicológico, que está sendo feito remotamente. Quando se perceber sintomas exacerbados de angústia, tristeza, medo e que não se pode controlar, que busquem ajuda dos profissionais da saúde mental.